BNCC na prática: como transformar as habilidades em planos de aula criativos
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento normativo que define os direitos de aprendizagem de todos os alunos da Educação Básica no Brasil. Ela orienta os currículos escolares e propõe o desenvolvimento de competências e habilidades essenciais ao longo da vida escolar.
Apesar da sua importância, muitos educadores ainda enfrentam desafios para colocar a BNCC em prática de forma criativa e significativa, indo além do cumprimento burocrático de registrar habilidades nos planejamentos. Este post vai te mostrar como transformar as habilidades da BNCC em planos de aula dinâmicos, coerentes e contextualizados, respeitando a intencionalidade pedagógica e o protagonismo do aluno.
Compreendendo a estrutura da BNCC
A BNCC está organizada por etapas da educação, componentes curriculares, campos de experiência (na Educação Infantil) e áreas do conhecimento. Cada componente apresenta:
- Competências gerais: 10 ao todo, válidas para toda a Educação Básica. Elas visam formar cidadãos críticos, autônomos, éticos e preparados para os desafios do século XXI.
- Competências específicas: relacionadas a cada área do conhecimento ou componente.
- Habilidades: são descritas por códigos (ex: EF04LP05) e definem o que os estudantes devem desenvolver em termos de saberes, práticas e atitudes.
Transformar essas habilidades em práticas pedagógicas exige planejamento com clareza de objetivos, articulação com a realidade dos alunos e criatividade na escolha das estratégias didáticas.
Etapas para transformar habilidades em planos de aula criativos
Análise cuidadosa da habilidade
Antes de planejar qualquer atividade, é necessário interpretar com profundidade a habilidade proposta. Vamos tomar como exemplo:
EF15LP09 – Reconhecer a função social do texto instrucional, com base em suas características.
Ao analisar essa habilidade, identificamos que o foco está em:
- Leitura e interpretação de textos instrucionais (como receitas, regras, manuais);
- Identificação da função comunicativa do texto;
- Compreensão de elementos estruturais e linguísticos.
Essa leitura da habilidade permite clareza sobre o foco pedagógico, o que será essencial na hora de planejar a aula.
Definir o objetivo da aula com intencionalidade
Transformar a habilidade em um objetivo de aprendizagem claro, por exemplo:
“Compreender a função e a estrutura dos textos instrucionais por meio da leitura e produção de receitas.”
O objetivo precisa ser alcançável, mensurável e conectado à realidade dos alunos.
Pensar em contextos reais e significativos
Trazer situações do cotidiano para dentro da sala de aula é uma forma poderosa de tornar o aprendizado mais envolvente. Com base na habilidade acima, que tal trabalhar com:
- A leitura de embalagens de produtos culinários;
- A escrita de uma receita que a turma irá preparar;
- Um vídeo instrucional gravado pelos próprios alunos?
Contextos reais permitem que o conhecimento faça sentido e seja utilizado de maneira funcional pelos estudantes.
Escolher estratégias didáticas criativas
Evite limitar o trabalho à ficha de atividades. Planeje estratégias diversificadas:
- Oficinas práticas;
- Trabalho em grupos;
- Roda de conversa;
- Projetos interdisciplinares;
- Uso de tecnologias (como Canva, Jamboard, vídeos, podcasts).
- Criatividade não está em fazer algo complicado, mas em adaptar os conteúdos para que sejam vivenciados com sentido.
Organizar os recursos e critérios de avaliação
Todo plano de aula precisa prever os materiais que serão utilizados (livros, vídeos, objetos, etc.) e os critérios para avaliar a aprendizagem. A avaliação pode ser feita por meio de:
- Rubricas;
- Autoavaliação;
- Produção de texto;
- Apresentações;
- Registro em portfólio.
A avaliação deve ser formativa, acompanhando o processo e não apenas o resultado final.
Exemplo prático: plano de aula com base na BNCC
Componente: Língua Portuguesa
Ano: 4º ano do Ensino Fundamental
Habilidade: EF15LP09
Objetivo: Compreender e produzir textos instrucionais.
Atividade: Criação de um livro de receitas da turma.
Etapas:
- Leitura de diferentes tipos de receitas;
- Análise da linguagem, verbos no imperativo e estrutura;
- Conversa sobre a função social dos textos instrucionais;
- Produção de uma receita escrita (com apoio do professor);
- Ilustração e diagramação colaborativa do livro;
- Apresentação para outras turmas ou familiares.
Avaliação: Participação nas discussões, clareza e organização da receita, uso correto da linguagem instrucional.
Conclusão
Transformar a BNCC em prática pedagógica é uma tarefa que exige planejamento, intencionalidade e criatividade. Quando o professor compreende a habilidade e propõe atividades contextualizadas, o aprendizado se torna significativo, os alunos se engajam mais e a escola se aproxima da realidade da comunidade.
A BNCC não deve ser vista como uma lista de obrigações, mas como um instrumento para garantir o direito à aprendizagem de qualidade, respeitando a diversidade de contextos e de sujeitos. E para isso, nada melhor do que unir conhecimento pedagógico, sensibilidade e inovação no fazer docente.